O princípio ativo do Ozempic é a semaglutida, uma forma sintética do hormônio GLP-1, que promove a saciedade. O remédio age no corpo imitando um hormônio ligado ao apetite e a alimentação, ajudando a estimular a produção de insulina e, assim, a diminuir os níveis de glicose no sangue do indivíduo. Por conta deste mecanismo, quem usa o remédio sente menos fome e, consequentemente, se alimenta menos e emagrece. No entanto, este medicamento não tem indicação para o tratamento da obesidade. Ele foi desenvolvido para tratar diabetes tipo 2 em pessoas de difícil controle devido ao impacto do peso na doença. Sua administração é feita por meio de uma caneta injetável.
No entanto, celebridades de várias partes do mundo têm compartilhado nas redes sociais que estão usando o Ozempic para emagrecer, dentre eles Elon Musk, CEO da Tesla e dono do Twitter, e a cantora Jojo Todynho. O uso do medicamento para este fim virou piada até na cerimônia do Oscar, nos Estados Unidos. O comediante Jimmy Kimmel chegou a brincar com a tendência ao apontar para a plateia e dizer: "Todo mundo parece tão bonito. Quando olho em volta desta sala, não posso deixar de me perguntar: 'Ozempic é certo para mim?'"
A preocupação de especialistas com o uso desenfreado da semaglutida, sem atender aos critérios para indicação e sem a devida avaliação médica, é devido aos riscos que o medicamento pode gerar. Os principais são relacionados ao trato gastrointestinal, como náuseas, vômitos, sensação de plenitude gástrica, constipação ou diarreia, cefaleia e sensação de fraqueza.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, precisou mudar sua dieta e parar de consumir produtos com lactose devido a um efeito colateral do uso do medicamento — que já foi descontinuado. O Ozempic causou um refluxo gástrico crônico em Lula.
Há ainda o risco de a perda de peso excessiva provocar uma perda de massa magra em todo o corpo, o que leva a problemas como um envelhecimento acelerado do rosto. Essa consequência, mais aparente, tem sido cada vez mais relatada e ganhou até mesmo um nome: "Ozempic Face", acumulando uma série de registros nas redes.
A fabricante do Ozempic, a Novo Nordisk, vem rechaçando o uso do remédio para a finalidade de emagrecimento. Em nota mais recente, comentando as falas de Jojo Todynho sobre a utilização do medicamento, a farmacêutica reforçou que seu produto deve ser usado no tratamento do diabetes tipo 2.
"A Novo Nordisk esclarece que o Ozempic®️ (semaglutida) é um medicamento indicado, em conjunto com dieta e exercícios, exclusivamente para o tratamento de pacientes adultos com diabetes tipo 2 não satisfatoriamente controlada (ou seja, quando o nível de açúcar no sangue permanece muito alto) (...) É importante ressaltar que a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos", diz o comunicado da empresa.
Para o tratamento da obesidade há no Brasil um novo remédio à base de semaglutida aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Chamado de Wegovy, também fabricado pela Novo Nordisk, o medicamento deve ser usado junto com dietas e exercícios físicos. Ele é indicado apenas a pessoas com o IMC maior ou igual a 30 kg/m² (considerado obesidade), ou para aqueles a partir de 27 kg/m² (considerado sobrepeso) com alguma comorbidade relacionada ao peso.
Em fevereiro, a Novo Nordisk chegou a emitir um alerta de risco de desabastecimento do Ozempic nas farmácias brasileiras neste primeiro semestre por conta de "uma demanda muito maior do que a prevista". Questionada se a falta do remédio estaria associado ao uso off-label para o emagrecimento, a farmacêutica afirmou que "não é possível rastrear a finalidade de uso do produto pelo paciente".